terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A PROPÓSITO DO TRIBUNAL ARBITRAL DESPORTIVO

Tribunal Arbitral do Desporto, em Lausana, 
em ambiente propício, limpo e arejado, como
covém a um Tribunal: longe de Portugal




Agora que retorna à praça pública o almejado Tribunal Arbitral do Desporto, ora pelo COP, ora pelo Governo, parece mais um veneno encomendado para dar uma cadeira a quem a prenunciou ou a quem pelo lugar almeja. Estaria implícita a ideia de que - qualquer que viesse a ser o seu dono e proprietário - a isenção jurídica prevaleceria. O que, num mundo lusitano desportivo com vespeiros, não é verdade.

O TAD português é o pior achado arqueológico, porque viciado nas suas origens. Tão depressa o deseja o COP, como, com igual desenvoltura o deseja o Estado. E esta disputa diz tudo. Mas diz tudo o quê ? Que o desporto nacional fica entregue à parcialidade e à pouca vergonha que já hoje em dia, nos é proporcionado assistir no campo político, sem a menor parcimónia, como se, não ter vergonha, tivesse passado a ser virtude. E como uma pandemia não tardaria o contágio ao campo desportivo.

Mas, desconhecendo se o alvitre veio na sequência do caso Queiroz-(Luís Horta-Sardinha), ou se é anterior e entrou em hibernação, tudo leva a crer que, embora com um largo atraso para que os dois contendores COP-ESTADO pudessem digerir a ideia ou fazê-la esquecer, que, dizia-se, o caso Queiroz terá sido o insólito despertador.

Se o TAD tivesse sido criado, legalizado e atribuído ao Estado, quem dúvidas teria sobre o resultado do caso Queiroz-(Luís Horta-Sardinha) ? Queiroz seria severa e duplamente castigado. Na situação inversa em que o TAD ao COP se atribuiria, afigura-se difícil a um organismo olímpico, mesmo gritando contra o Estado, mas dele dependente, alterar a sentença logo, igual juízo recairia. 

E aí temos as primeiras dificuldades para um TAD nacional, em Portugal, França, Itália, Alemanha, e algures por esse mundo fora.
Porque, e a isso convém cada um se ater, como volúvel é, numa massa crítica desportiva nacional, eivada de paixões clubísticas, simpatias, antipatias, ódios pessoais, queixas do passado, ideologias partidárias, facciosismo, falsas autarcias - e não é desejável alargar a lista das fraquezas humanas - em meio tão pequeno e irrisório, onde toda a gente como num panóptico, enxerga os defeitos dos outros, e as virtudes em si mesmos.

Daqui a diferença abissal entre um TAD do CIO, e um TAD, do COP ou do Estado – o diabo que venha e escolha – considerando que o longe do TAD-CIO, longe das paixões locais, longe das pequenas questiúnculas locais, e longe das intimidades ou inimizades pessoais, estará sempre em melhores condições de imparcialidade perante as condições expostas por cada um dos contendores. O longe é o melhor salvo conduto para o juízo mais perfeito, porque longe dos ruídos locais, e porque esse ambiente  de acalmia, sossego, e isolamento suíço, criam o ambiente propício para um desenvolvimento do exame frio e análise meticulosa dos argumentos das partes que desconhece.

A diferença é humanamente climática. No TAD suíço o ambiente é mentalmente frio, enquanto que no TAD lusitano, em vez de quente, será um fogo escaldante. E é isso que se deseja para o desporto nacional ?

Sem comentários:

Enviar um comentário