Tribunal Arbitral do Desporto, em Lausana,
em ambiente propício, limpo e arejado, como
covém a um Tribunal: longe de Portugal
Agora que retorna à praça pública o almejado
Tribunal Arbitral do Desporto, ora pelo COP, ora pelo Governo, parece mais um veneno
encomendado para dar uma cadeira a quem a prenunciou ou a quem pelo lugar almeja.
Estaria implícita a ideia de que - qualquer que viesse a ser o seu dono e
proprietário - a isenção jurídica prevaleceria. O que, num mundo lusitano
desportivo com vespeiros, não é verdade.
O TAD português é o pior achado
arqueológico, porque viciado nas suas origens. Tão depressa o deseja o COP,
como, com igual desenvoltura o deseja o Estado. E esta disputa diz tudo. Mas
diz tudo o quê ? Que o desporto nacional fica entregue à parcialidade e à pouca
vergonha que já hoje em dia, nos é proporcionado assistir no campo político, sem
a menor parcimónia, como se, não ter vergonha, tivesse passado a ser virtude. E
como uma pandemia não tardaria o contágio ao campo desportivo.
Mas, desconhecendo se o alvitre veio na sequência
do caso Queiroz-(Luís Horta-Sardinha), ou se é anterior e entrou em hibernação,
tudo leva a crer que, embora com um largo atraso para que os dois contendores
COP-ESTADO pudessem digerir a ideia ou fazê-la esquecer, que, dizia-se, o caso
Queiroz terá sido o insólito despertador.
Se o TAD tivesse sido criado, legalizado e atribuído
ao Estado, quem dúvidas teria sobre o resultado do caso Queiroz-(Luís
Horta-Sardinha) ? Queiroz seria severa e duplamente castigado. Na situação
inversa em que o TAD ao COP se atribuiria, afigura-se difícil a um organismo olímpico,
mesmo gritando contra o Estado, mas dele dependente, alterar a sentença logo, igual juízo recairia.
E aí
temos as primeiras dificuldades para um TAD nacional, em Portugal, França, Itália,
Alemanha, e algures por esse mundo fora.
Porque, e a isso convém cada um se ater, como volúvel
é, numa massa crítica desportiva nacional, eivada de paixões clubísticas,
simpatias, antipatias, ódios pessoais, queixas do passado, ideologias partidárias,
facciosismo, falsas autarcias - e não é desejável alargar a lista das fraquezas
humanas - em meio tão pequeno e irrisório, onde toda a gente como num panóptico,
enxerga os defeitos dos outros, e as virtudes em si mesmos.
Daqui a diferença abissal entre
um TAD do CIO, e um TAD, do COP ou do Estado – o diabo que venha e escolha –
considerando que o longe do TAD-CIO, longe das paixões locais, longe das pequenas
questiúnculas locais, e longe das intimidades ou inimizades pessoais, estará
sempre em melhores condições de imparcialidade perante as condições expostas
por cada um dos contendores. O longe é o melhor salvo conduto para o juízo mais
perfeito, porque longe dos ruídos locais, e porque esse ambiente de acalmia, sossego, e isolamento suíço,
criam o ambiente propício para um desenvolvimento do exame frio e análise
meticulosa dos argumentos das partes que desconhece.
A diferença é humanamente climática.
No TAD suíço o ambiente é mentalmente frio, enquanto que no TAD lusitano, em
vez de quente, será um fogo escaldante. E é isso que se deseja para o desporto
nacional ?
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